É importante pertencer a algum lugar, a algum sítio, a alguém. É fundamental para o nosso equilibro, para o nosso sentir, para o nosso respirar ser-mos de algo, e algo ser nosso. É importante ser mais que uma casa, é preciso ser as mobílias dessa casa, as paredes, as portas, as janelas. É preciso ser gente, é preciso ser voz, ser lágrima e sorriso, é preciso ser mais do que uma casa. É preciso ter cor, ter vidros duplos, mas a porta aberta e deixar entrar quem tocar à campainha. É preciso saber enfrentar o mau tempo, e saborear o sol soalheiro de uma tarde de Agosto. É preciso respeitar os tempos, os verbos, as terminações. É preciso ser frase dentro dum texto, palavra num discurso. É preciso ser alguém, mas se possível, ser mais, um pouco mais do que os outros são. É preciso dar, mesmo quando não se espera nada. É preciso acreditar de olhos abertos, e esperar que o aconchego venha, numa noite de frio. É preciso não ter medo, sobretudo medo de amar, ainda que não saibamos o que é o amor. E eu não sabia, mas aprendi a amar mesmo quando não acreditava no que isso implicaria. Começei a amar quem tinha, mas não tinha perto de mim.

in prisão de afectos